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Santos Ser Propriedades

ser


TEMA I – ARTIGO 4 — DAS PROPRIEDADES DO SER

A propriedade é definida como o próprio de uma coisa (idion), que nem sempre é unívoco com o ente. O próprio é o que pertence a toda uma espécie, não como essência, pois pode encontrar-se em outras espécies.

O próprio é um predicável acidental. É, em suma, o necessário em qualquer sujeito, não pertencente à sua essência.

A unidade ontológica é a primeira propriedade do ente (como ser), um atributo transcendental.

Como já vimos, são conceitos transcendentais aqueles que se referem a atributos que convém a todos os seres, não apenas no que eles têm de comum, mas também no que têm de próprio. Desta forma, o conceito de ser pode ser aplicado a todos os entes.

Mas, também, outros conceitos o podem, como, o de entidade (entitas), o de unidade, o de verdade e de bondade, (valor), o de "alguma coisa", e também o de relação.

Já examinamos o que se entende por unidade: caráter do que é um. Não se deve confundir o conceito de unicidade com o de um. Unicidade é o caráter do que é único, sem segundo idêntico a ele, enquanto o de ser um, refere-se ao caráter de quem tem unidade.

A unidade é indivisa. Muitos julgam que é negativo o conceito de indiviso. Mas a unidade é positiva, e o caráter de ser indivisa, aponta apenas a recusa que se faz à unidade de não ser senão ela mesma, pois se divisa, a unidade, enquanto tal, deixá-lo-ia de ser.

Consequentemente, todo ente é um (ente ôntico). "Um, o que é indiviso em si e distinto de qualquer outro" (Tomás de Aquino). Unidade é dada pela coerência (veritas ontológica) pela inteligibilidade do ente, enquanto ente.

A unidade pode ser, em linhas gerais:
a) simples, de simplicidade;
b) de composição.

É unidade simples, de simplicidade, a que além de indivisa é ainda indivisível.

O átomo dos filósofos é indiviso, pois é a-tomós, e também é indivisível porque é simples, não composto. Também, assim, um puro espírito é indiviso e indivisível.

Os seres compostos, que como tais não são simples, formam uma unidade de composição, e formam um todo. Enquanto todo, é individido atualmente, mas não excluí a divisibilidade. As unidades forma-matéria, substância-acidente, são para muitos unidades de simplicidade, embora apresentem distinções metafisicamente consideradas; para outros, unidades de composição, mas muito mais coerentes do que as que compõem as unidades de composição física. Um átomo, na concepção atômica científica, é uma unidade de composição forte.

Estas unidades, que são estruturas, como as estruturas de ordem biológica, de ordem psicológica e sociológica, possuem graus de coerência, de coesão, maior ou menor. São assim "tensões", no sentido que damos a este termo, que incorporamos ao universo de discurso da filosofia. Mas a tensão oferece um aspecto importante. Se ela é, como todo, quantitativamente a soma das suas partes, é qualitativamente diferente, o que revela um salto qualitativo importante, que a "Teoria Geral das Tensões" estuda.

Duns Scotus oferece esta divisão de unidade:

  • Unitas aggregationis (unidade de conjunto) é a que forma um grupo de objetos simplesmente reunidos.
  • Unitas ordinis (unidade de ordem). Esta não é uma pura e simples juxtaposição, mas nela cada parte ocupa um lugar justificável, em virtude de um certo princípio.
  • Unitas per accidens (Unidade por acidente). Não é propriamente uma relação de ordem, mas a unidade de um determinado e de uma forma que o determina. Se a forma é acidental, a unidade é per accidens. Se a forma é substancial, estamos, então em face de uma.
  • Unitas per se, uma unidade por si.
  • Finalmente a unidade mais alta é a Unitas simplicitatis, que implica uma perfeita identidade, pois o que está numa unidade de simplicidade, seja o que for, é a mesma coisa que seja o que for, nela.


A unidade não é um termo apenas unívoco, pois a unidade que encontro neste livro como um artefato humano, portanto do mundo da cultura, e um ser vivo, como unidade, é diferente. Mas também não é apenas equívoco, porque, em ambos casos, estamos em face de uma coerência. Há síntese de semelhança e de diferença, portanto a unidade é análoga, como examinaremos ao tratar o tema da analogia.

O ser é unidade. E como já vimos, ser e um se convertem (ens et unum convertuntur). Se o ser fosse divisível pelo nada, por exemplo, como o afirmam alguns, teríamos, então, diversos seres, e cairíamos no pluralismo, com todas as aporias que daí decorrem, como ainda veremos em lugar oportuno.

Essas propriedades do ente não lhe acrescentam qualquer coisa de real, mas apontam o que é racionalmente captado no ente. Esta afirmação, que ora fazemos, implica um problema de ontologia, que é o da distinção. Por esse motivo, no lugar oportuno, voltaremos a examiná-lo.

Excertos:
Verdade e Ente
Ser e Valor
Ser Inteligibilidade
Princípio de Não-Contradição

SÍNTESE DA MATÉRIA TRATADA

O conceito de ser é um conceito simplicíssimo, comuníssimo e essencial.

É o primeiro objeto do intelecto. É formalmente pobre, mas concretamente rico. Todo ser é unidade, alguma coisa, bondade (valor), verdadeiro, entidade, relação (como ainda veremos).

O Ser, enquanto tal, não é um gênero e não é um universal.

Transcende às categorias que são nele, e dele.

É o mais comum, por ser o mais inteligível.

É uma unidade de simplicidade e uma unidade de razão.

Não existe à parte de outro.

É único.

É o sujeito de todos os predicados e predicado de todos os sujeitos.

É eternamente presente.

Inseria, em si, tudo.

É a eterna presença e eficacidade pura.

Inclui a finitude e a infinitude, e todas as modalidades de ser.

É perfeito, proficiente, pois nada lhe falta, nem nada há fora dele.

É a primordialidade de tudo quanto é.

São esses os predicados que podemos, por ora, apontar no ser. Sua justificação, em parte feita, será robustecida nas páginas seguintes, nos próximos temas, em que a análise ontológica aumentará em horizontalidade e verticalidade.