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id da página: 12238 Izutsu (TIST) – Indiferenciação e Diferenciação Toshihiko Izutsu Toshihiko Izutsu

Izutsu (TIST) – Indiferenciação e Diferenciação

Da mesma forma, na estrutura ontológica das coisas, tanto a “indiferenciação” primitiva quanto a “diferenciação” fenomenal, tanto a Unidade quanto a Multiplicidade, são reais. Se Zhuangzi enfatiza tanto o primeiro aspecto, é principalmente porque, no plano da experiência humana correspondente ao senso comum, o aspecto fenomenal é tão dominante e preponderante que costuma ser considerado como a Realidade.

A raiz do Ser é absolutamente uma, mas não repousa eternamente em sua Unidade original. Pelo contrário, pertence à própria natureza do Ser não deixar de se manifestar em formas infinitas. Ele se diversifica nas “dez mil coisas” que, por sua vez, se transformam infinitamente umas nas outras. Este é o aspecto fenomenal do Ser. Mas, neste mesmo processo de “diferenciação” e “diversificação” ontológicas, todas as coisas remontam à sua fonte metafísica primigenia. O processo de “descida” e o de “ascensão”, paradoxalmente, são uma mesma coisa. A relação entre Unidade e Multiplicidade deve ser entendida desta forma: assim como a Unidade não é uma “unicidade” estática de morte e rigidez, mas um processo dinâmico perpétuo de coincidentia oppositorum, a Multiplicidade não é uma “diferenciação” estática das coisas fixas de uma vez por todas, mas um processo constante que abrange a tensão ontológica da Unidade na Multiplicidade.

Do ponto de vista da “diferenciação”, nada é igual ao outro, mesmo o fígado e a bile como exemplo de duas coisas intimamente relacionadas são tão diferentes quanto distantes são os países de Chu e Yue.

No entanto, da perspectiva da “igualdade”, todas as coisas são uma só.

Infelizmente, os homens comuns, cegos pelos deslumbrantes brilhos fenomenais da multiplicidade, não são capazes de perceber a profunda unidade latente no conjunto. Eles não podem, como diz Zhuangzi, “unificar os objetos de seu conhecimento”.

A única atitude correta diante dessa situação é “deixar nossas mentes livres na harmonia da perfeição espiritual”. A palavra “harmonia” he, neste caso, refere-se, como indica Cheng Xuanying, ao fato de que, “quando unificamos os objetos do nosso conhecimento” e “caotizamos” todas as coisas, nossa mente desfruta de uma serenidade perfeita, sem ser perturbada pelo “que nossos olhos e ouvidos aprovam”. Refere-se também ao fato de que todas as coisas, nesse nível, estão juntas e em paz, sem que haja oposições “essenciais” entre elas. Não devemos permanecer cegos diante do aspecto fenomenal do Ser, diz Zhuangzi. Mas também não é bom limitar-se a contemplar a multiplicidade das coisas a partir da perspectiva do mundo fenomenal. Devemos transcender essa fase, elevar-nos e vislumbrar, dessa altura, o caleidoscópio formado pela multiplicidade sempre mutável das coisas. Só então estaremos em condições de conhecer a realidade do Ser. (Toshihiko Izutsu – Sufismo e Taoísmo)