CORBIN, Henry. Corps spirituel et terre céleste: de l’Iran mazdéen à l’Iran shî’ite. Paris: Buchet Chastel, 2005
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Imago Terrae mazdeana
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“La Tierra es un Ángel”
- A experiência visionária de G.-T. Fechner de que “la Tierra es un Ángel” em uma manhã de primavera.
- O lamento de Fechner sobre a consideração moderna de tal experiência como imaginária, em contraste com a visão da Terra como um corpo esférico para a mineralogia.
- A reflexão sobre a confissão lírica de Fechner, que evoca dois pontos: sua aptidão para a perceção dos símbolos, manifestada em seu livro Zend-Avesta, e a degradação da faculdade de perceção angelical.
- A identificação da cognitio matutina de Fechner com a doutrina e a prática do Avesta, que celebra a Terra como um Anjo.
- A imprecisão na visão de Fechner, que identificou a face da Terra com a efígie do Anjo, em vez de a glória telúrica como criação litúrgica do Anjo da Terra.
- A constatação de que a percepção exata do Anjo da Terra implica o exercício perfeito de uma faculdade cuja degradação Fechner deplora.
- A interpretação da consideração da percepção como "imaginária" como um sinal da estrutura psico-espiritual específica necessária para esse modo de conhecimento.
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“La Tierra es un Ángel”
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A perceção mazdeísta da Terra na perspectiva de uma angelologia
- A definição do modo de percepção como envolvendo uma faculdade de conhecimento que transcende a abstração conceptual e a percepção sensorial física.
- O convite para tratar conjuntamente a percepção mazdeísta da Terra a partir de uma angelologia e a forma de apreensão dos seres que dela difere da ciência positiva.
- O reconhecimento da Terra não como um conjunto de fatos físicos, mas na pessoa de seu Anjo, como um fato psíquico que ocorre num universo intermédio.
- A necessidade de perceber a Terra através de uma Imagem primordial, paralela à Imagem que a alma traz dentro de si.
- A definição desse universo intermédio como o mundus imaginalis, o universo das Formas imaginais, percebidas como presenças pessoais.
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A intenção constitutiva do universo imaginal: a pergunta "quem?"
- A descoberta de que a intenção constitutiva desse universo responde a perguntas sobre pessoas ("quem é?") e não sobre essências ("o que é?").
- A resposta a essas perguntas através da presença de uma Forma imaginal, correspondente a um estado determinado.
- A consideração do fenômeno da Terra como uma angelofania ou aparição mental de seu Anjo, no conjunto da angelologia fundamental do mazdeísmo.
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Esclarecimentos sobre a angelologia mazdeísta
- A caracterização da angelologia como um traço distintivo do mazdeísmo zoroástrico, impedindo sua redução a um monoteísmo abstrato ou a um politeísmo.
- A exigência de compreender o Avesta canônico como um todo, tal como completado por comentários em iraniano médio (pahlevi) e persa, focando "para onde vai" em vez de "de onde vem".
- A identificação, pela piedade mazdeísta, dos Yazatas com as figuras dos Anjos e Arcanjos.
- A distinção da natureza ontológica dos Yazatas, que não são servidores ou mensageiros, mas figuras homólogas aos Dii-Angeli de Proclo.
- A defesa dos neoplatônicos como mais próximos da angelologia iraniana do que as improvisações filosóficas na história das religiões.
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O esquema cosmológico mazdeísta: a luta entre a Luz e as Trevas
- A apresentação do esquema geral que articula o pleroma celeste de luz.
- A divisão da totalidade pensável entre uma altura infinita de Luz, morada de Ohrmazd (Ahura Mazda), e um abismo de Trevas, morada do Antagonista, Ahriman (Angra Mainyu).
- A inexistência de compromisso entre a Potência de Luz e a Potência de Trevas, apenas uma luta sem tréguas, cujo cenário é a Terra e a Criação visível.
- O objetivo final da luta: a apocatástase ou "restabelecimento" (Frashkart), que porá fim à mistura (gumechishn) mediante a separação (vicharishn).
- A refutação da interpretação pueril do mazdeísmo como uma simples divisão entre "brancos" e "negros", salientando que o estado atual é precisamente o de "mistura".
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A Héptada divina: os Amahraspands ou Arcanjos zoroástricos
- A característica do Senhor da Sabedoria aparecer sempre rodeado de seis Potências de Luz, formando a Héptada divina suprema.
- A rejeição da redução dessas Potências a "aspectos" da divindade suprema, em favor da sua perceção como Pessoas celestes.
- A designação das Sete Potências como Amahraspands (Amerta Spenta), "os Santos Imortais", cuja santidade é uma Energia transitiva, ativa e ativadora.
- A descrição, no Yasht XIX do Avesta, da unio mystica dos sete Arcanjos, que partilham o mesmo pensamento, palavra e ação.
- A caracterização da Héptada como um catenoteísmo, em que cada figura pode ser concebida como integradora da totalidade das relações.
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A iconografia e a hierurgia da Héptada divina
- A divisão tradicional da Héptada em três Arcanjos masculinos à direita de Ohrmazd e três femininos à sua esquerda, sendo Ohrmazd pai e mãe da Criação.
- A criação das criaturas pelos Sete através de um ato litúrgico, a Liturgia celeste.
- A atribuição a cada Potência de Luz da criação da parte da Criação que representa a sua hierurgia pessoal:
- Ohrmazd: o ser humano.
- Vohu Manah (Bahman): a criação animal.
- Arta Vahishta (Urdībihisht): o Fogo.
- Xshathra Vairya (Shahrīvar): os metais.
- Spenta Armaiti (Isfandārmuz): a Terra como forma de existência, a Sabedoria e a mulher como ser de luz.
- Haurvatāt (Jurdād): as Águas.
- Amertāt (Murdād): as plantas.
- A indicação dessas relações hierúrgicas como guia para o ser humano cooperar com as Potências de Luz.
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A hierarquia angelical: Yazatas e Fravartis
- A assistência prestada aos Arcanjos supremos pela multidão de Yazatas (os "Adoráveis"), Anjos do mazdeísmo.
- A analogia da sua cooperação com a angelologia neoplatónica.
- A menção especial a Zamyāt, o Anjo feminino da Terra como Dea terrestris e Glória telúrica, colaboradora do Arcanjo Amertāt.
- A existência da multidão de entidades celestes femininas chamadas Fravartis ("as que escolheram"), que são os arquétipos celestes dos seres e seus Anjos tutelares.
- A necessidade metafísica das Fravartis para Ohrmazd defender a sua criação.
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A estrutura dual fundamental e os estados mēnōk e gētīk
- A estrutura dual essencial que anuncia a cada ser o seu arquétipo celeste ou Anjo.
- A distinção deste dualismo do dualismo Luz-Trevas, sendo este último a fase dramática da Criação invadida.
- A dualidade essencial que une um ser de luz a outro ser de luz, nunca às trevas ou à sua própria sombra.
- A distinção cosmológica entre o estado mēnōk (invisível, sutil, celeste) e o estado gētīk (visível, denso, terrestre) dos seres.
- A ausência de degradação inerente ao estado gētīk, que antes da invasão tinha um estado glorioso de luz.
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A percepção do Anjo através da Imaginatio vera
- A constatação de que a visão mental do Anjo da Terra não é uma experiência sensível.
- O questionamento da identificação do imaginário com o arbitrário e o irreal.
- A interrogação sobre o valor de conhecimento das representações derivadas de percepções físicas.
- A possibilidade de a ação invisível de forças manifestas fisicamente alcançar diretamente uma Imaginação ativa, a Imaginatio vera dos alquimistas, o astrum in homine.
- A definição da Imaginação ativa como um órgão de conhecimento tão real ou mais real que os sentidos, que não produz construções arbitrárias, mas desvela o real oculto.
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A função transmutadora da Imaginação ativa e o mundus imaginalis
- A percepção através da Imaginação como uma "desmaterialização" que transforma o dado físico num espelho puro, uma transparência espiritual.
- A aparição dos Anjos à intuição visionária quando a Terra e os seres atingem a incandescência.
- A autenticidade do Acontecimento visionário como o sentido profundo do "docetismo".
- A constituição do mundo intermédio, o intermundo das Formas imaginais, distinto do mundo das Ideias-arquétipo de Platão.
- A comparação da ação da Imaginação com o ta’wīl, a exegese espiritual que oculta o aparente e manifesta o oculto.
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A restauração de Suhrawardī e o mundo das Formas imaginais
- A referência a Suhrawardī, que no século XII restaurou no Irã a filosofia da Luz e a angelologia da Pérsia antiga.
- A estruturação do seu esquema do mundo em torno do mundo das Formas imaginais, onde se efetuam as transmutações do efêmero em símbolos espirituais.
- A identificação desse mundo como o lugar da ressurreição dos corpos, devido à conexão entre a alma e a Terra celeste para a formação do "corpo de ressurreição".
- A definição da Imaginação ativa como o órgão das metamorfoses, da qual depende a transmutação da Terra em substância do corpo de ressurreição.
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A Imago Animae e a projeção da Imago Terrae
- A tarefa de buscar como se perfila a figura do Anjo quando a Imaginação ativa transfere os dados sensíveis para o estado diáfano.
- A conceitualização da Forma imaginal como órgão através do qual a Imaginação realiza a transmutação e as coisas refletem a sua própria Imagem à alma.
- O autorreconhecimento da alma como instaurador de uma ciência espiritual da Terra, onde as coisas são conhecidas no seu Anjo.
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A Energia do Xvarnah (Luz-de-Gloria)
- A introdução da Energia do Xvarnah (persa jurrah, farrah), que sacraliza os estados mēnōk e gētīk do ser.
- A sua ação desde a formação do mundo até à Transfiguração final (Frashkart).
- A tradução de Xvarnah como "Luz-de-Glória", associada aos equivalentes gregos Δόξα (Glória) e Τύχη (Destino).
- A definição como a substância luminosa pura das criaturas de Ohrmazd, a Energia de luz sacra que faz coeso o seu ser e garante a vitória contra a corrupção.
- A sua associação às esperanças escatológicas, como expresso no Yasht XIX dedicado a Zamyāt.
- A representação iconográfica como o halo luminoso da Aura Gloriae.
- A identificação, no Bundahishn, do Xvarnah com a própria alma.
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A Imago Animae como órgão de conhecimento e projeção
- A definição da Luz-de-Gloria como a Imago Animae, a Forma imaginal da Alma mazdeísta.
- A sua função como órgão através do qual a alma capta o mundo de luz homogêneo e transmuta os dados físicos.
- A projeção desta Forma imaginal nos seres e coisas, levando-os à incandescência do Fogo vitorioso.
- A realização, através desta projeção, da transmutação da Terra material numa Imago Terrae que reflete a Imagem da alma.
- A manifestação do Anjo da Terra através deste duplo reflexo da mesma Luz-de-Gloria.
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A relação sofiânica: Spenta Armaiti como mãe de Daēnā
- A menção ao traço profundo da angelologia mazdeísta: Spenta Armaiti como a "mãe" de Daēnā.
- A definição de Daēnā como o Anjo feminino que simboliza o Eu transcendente ou celeste, que aparece à alma após a morte.
- A interpretação: a substância do Eu celeste forma-se a partir da Terra percebida no seu Anjo.
- A interligação do destino da Terra e da realização das almas de luz.
- O sentido da oração mazdeísta "Para que sejamos os responsáveis pela Transfiguração da Terra".
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O sacramentum Terrae mazdeísta e a geosofia
- A expressão do mistério da Imago Animae e da Imago Terrae na relação entre Spenta Armaiti e Daēnā.
- A designação de Spenta Armaiti como Pensamento perfeito, Meditação silenciosa, Sofia.
- O esboço de uma sofiologia mazdeísta, com o fiel proclamando ter Spandarmat como mãe e Ohrmazd como pai.
- A apreciação deste principium relationis como um sacramentum Terrae mazdeísta, uma geosofia ou mistério sofiânico da Terra.
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A geografia visionária e a cartografia meditativa
- A impossibilidade de realizar a percepção do mistério sofiânico da Terra no âmbito de uma geografia positiva.
- A implicação de uma geografia visionária, uma "paisagem de Xvarnah" que simboliza o Frashkart.
- A concentração do espaço sagrado in medio mundi, no centro de visão determinado pela alma visionária.
- A transformação dos aspectos geográficos, como as montanhas, em aspectos psico-cósmicos de uma geografia imaginal.
- A ocorrência de acontecimentos visionários, uma história imaginal, neste cenário.
- A localização do paraíso de Yima, o paraíso dos arquétipos, neste centro de encontro entre Celestes e Terrenais.
- A descrição do procedimento cartográfico dos antigos iranianos como um instrumento de meditação para alcançar o médium mundi.
- A transformação de plantas, águas e montanhas em símbolos, captados através de uma Forma imaginal que é a presença de um estado visionário.
- A aparição das Figuras celestes e das paisagens terrestres aureoladas pela Luz-de-Gloria, na sua pureza paradisíaca, como cenário das visões de Zaratustra.