Christian Jambet (USJJ6)
As glosas de Avicena sobre a chamada Teologia de Aristóteles apresentam uma particularidade importante: são um texto inacabado e fragmentado. A inspiração do filósofo sofre variações sutis que alteram o tom de uma passagem ou o horizonte de um problema, a ponto de ser difícil extrair das Glosas uma doutrina exclusiva sobre a alma e seu destino. Essa nunca foi, de qualquer forma, a ambição de um texto tão breve. Nosso objetivo é apenas acompanhar Avicena em seu comentário à Teologia, refletir com ele sobre algumas das grandes questões que ela levanta e, por fim, vislumbrar o que a "Sabedoria Oriental" — à qual ele ocasionalmente se refere — indica sobre o sentido geral da obra e sua intenção. Um trabalho mais sistemático será desenvolvido em outro momento.
Avicena nos diz: "A alma está fixada em seu mundo, ao qual está ligada como alguém que segura na mão algo que esqueceu." A alma humana é capaz de beatitude (Platão e Aristóteles concordam nesse axioma grego, que constitui o próprio fundamento da filosofia). Mas ela esquece essa beatitude, esse prazer verdadeiro, que está em sua verdadeira pátria, ao se ocupar com o "prazer perecível"; um gozo vil e fugaz substitui o prazer mais nobre. A alma pode e deve se purificar, recuperando assim o que havia esquecido. Avicena insiste na analogia entre a alma individual e a Alma do Mundo: o destino de uma imita o da outra, com a diferença de que uma é superior à outra.
Mas como Avicena entende essa dualidade entre esquecimento e memória, exílio e retorno da alma? A Alma do Todo esquece seu mundo, o universo do Intelecto, ao se voltar para a matéria, à qual dá forma. É a atividade "demiúrgica", a doação de ordem ao mundo sensível, que impõe à Alma seu desarranjo e implica o esquecimento. Sem o esquecimento relativo do Intelecto pela Alma, não haveria Natureza. No entanto, é preciso distinguir a negligência da alma individual, humana, que se entrega ao mundo sem embelezá-lo, da descida da Alma, que é, ao contrário, a causa e a razão da beleza da Natureza.
Avicena, como a Teologia, justifica a descida da Alma: após informar e governar o mundo, a Alma pode fugir, sem ter sofrido qualquer dano pelo contato com as coisas materiais. Pelo contrário, ela tirou grande proveito disso; sem sua conversão relativa e passageira ao mundo inferior, ela não teria se manifestado. Para que o Uno se manifeste, é necessário o espelho do Intelecto, que por sua vez requer o espelho da Alma; e à Alma convém se representar, sendo a matéria o substrato dessa representação.
Um segundo argumento para a descida da Alma é a Natureza. O esplendor da Natureza, que é também sua organização, chama a atenção; o espectador inteligente, diz a Teologia, remonta dessa beleza à Alma que a causa. Como isso seria possível sem a descida da Alma no mundo sensível? Avicena, em seu comentário, introduz aqui uma distinção engenhosa: Deus Se faz conhecer melhor por Sua própria majestade do que pela criação. Mas a Alma, ao contrário, se aperfeiçoa, se completa, pela união substancial com o corpo.
Um terceiro argumento: a Teologia justifica a criação — tanto das coisas perecíveis quanto das Realidades eternas — explicando que, sem ela, o Primeiro não seria verdadeiramente causa. Negar a necessidade divina da criação é negar a generosidade transbordante de Deus e, consequentemente, Seu principal atributo. É suprimir Deus. Avicena comenta isso de forma admirável: para evitar que invertamos o argumento e vejamos nele uma falha da natureza divina, ele nos lembra que, se o Criador não fosse tal que concedesse o ser a todas as coisas, Ele não seria a Verdade Primeira.
Avicena extrai disso consequências importantes para a Alma. Primeiro, ele confirma que a manifestação da Alma por si mesma neste mundo inferior é uma necessidade. Toda natureza não prova seu ser por sua atividade em relação ao grau ontologicamente inferior? Avicena deduz daí a exigência de uma matéria para essa atividade da Alma: a matéria é o receptáculo da ação deliberada da Alma.
Avicena cita uma passagem esplêndida da Teologia: "Quando a Alma vem entre essas coisas sensíveis baixas, ela se junta às coisas de poder fraco, pouco luminosas. Ao operar neste mundo e imprimir nele vestígios maravilhosos, ela não considera necessário dissolvê-los... ela toma disposições para que sejam duráveis. De fato, ao retornar ao seu mundo e se estabelecer no alto, ela contempla o esplendor, a luz e o poder que lá existem, toma dessa luz e desse poder e os concede ao mundo..."
O comentário de Avicena sobre essa passagem pode parecer deslocado. Ele trata dos limites que a Natureza opõe à doação das Formas, mas se desvia do tema central, que é o dos atributos espirituais da Alma: esplendor, luz, poder. Ele transforma a ontologia da Sofia em uma psicologia de tipo aristotélico. Essa "tendência" do comentário de Avicena reaparecerá quando ele confrontar uma passagem capital do VIII maymar da Teologia: Como a alma conhece o mundo inteligível?
A Teologia escapa das aporias do Parmênides recorrendo a esta resposta: a alma conhece os inteligíveis pelo poder com o qual operava "lá em cima", antes de sua descida. A Alma não rompe com o Intelecto; ela degrada sua relação com ele, mas não há esquecimento irremediável, obscuridade total. Avicena percebe as dificuldades: se a alma percebe os inteligíveis por um "poder puramente intrínseco", ela dispensa qualquer operação e, portanto, o corpo — o que é absurdo. Se a alma não pode prescindir de atos, ela não pode se desvencilhar da matéria — o que também é absurdo. Falta a Avicena, para resolver essa dificuldade, uma noção clara do corpo espiritual.
Se os vestígios da Alma na Natureza são duráveis, é porque o que se mantém no ser está mais próximo do eterno do que do fugaz e do fútil. O amor por sua duração, em um ser natural, é uma inclinação para Deus. Avicena antecipa aqui um dos temas centrais da Ética.
Nas Glosas, Avicena recorre seis vezes à "Sabedoria Oriental": para tratar da purificação, da vida após a morte, do exitus da alma; para esclarecer o derramamento divino, a misericórdia ou a ira de Deus; para abordar a percepção visionária e a iluminação da alma pelo Primeiro; para discutir a harmonia do mundo espiritual; para examinar o lugar da contingência na criação; e, por fim, para tratar do vínculo celeste da alma, da memória angélica e do mundo celestial.
"A alma está fixada em seu mundo, ao qual está ligada como alguém que segura na mão algo que esqueceu." A Alma não pode se separar completamente do mundo do Intelecto. Entre as almas humanas, não há uma sequer, por mais má que seja, por mais presa ao mundo sensível, que não conserve um vínculo com o mundo do Anjo. Mas também não há alma próxima dele que não esteja separada. A memória que nossa alma tem do Intelecto assemelha-se à proximidade entre nossa mão e o objeto que ela segura: ela o conserva perto de si, dentro de si, sem saber, sem manter dele uma consciência plenamente luminosa.
A Alma contempla o Intelecto, do qual é o espelho: ela devolve ao Intelecto sua Imagem e contempla esse abismo, essa separação que permitem o movimento da mediação. Se a Alma deseja estar próxima do divino, é porque sofre com essa falta de ser, que é nela a marca da divindade, sem a qual ela não existiria.
Na obra de Avicena, a divisão entre os lados "oriental" e "ocidental" não passa entre obras distintas, mas no interior da própria obra. A processão dos mundos, do Ser necessário aos últimos graus da emanação, pode ser lida como uma ordem cósmica e lógica ou como a sinfonia de um desejo não saciado que busca seu apaziguamento. Perceber uma ou outra intenção em Avicena não é mais uma questão de conhecimento, mas de sentimento. É o pathos da alma que guia a leitura.
Desde que o Primeiro Se reflete no Primeiro Emanado, este sofre uma duplicação. O Primeiro Causado não é mais pura unidade. Ele contempla aquilo do qual emana (ele não é senão a contemplação do Primeiro), contempla a si mesmo e pode saber que, se Deus é necessário, ele próprio é necessário por Deus. Essa fratura no seio do Primeiro Causado constitui o drama de todo o mundo inteligível. O mundo se experimenta como possível — não como podendo não ser, mas como necessitado a ser. A constituição do ser se experimenta como inquietação, desde o Primeiro Causado até as últimas realidades sensíveis.
Há, do Primeiro Causado às últimas emanações, como uma sombra sobre o universo que duplica a luz do ser — o que simboliza o anjo cuja uma asa é de luz e a outra, de sombra.